Contudo, quando falamos de crianças ou até mesmo adolescentes, comumente ligamos a palavra indisciplina ao descumprimento de regras e ordens que impomos a elas sem explicar nada. Baseado nessa visão, uma criança indisciplinada seria aquela que não foi tomar banho quando seu pai mandou, ou a que não quis sentar no momento que a professora pediu, ou, até mesmo, o adolescente que se rebelou contra o horário que lhe foi imposto para chegar em casa.
Entretanto, será que estas são atitudes de indisciplina? Você sabia que nós contribuímos para o surgimento delas? Que tal tentarmos compreender qual a nossa parcela nessa contribuição?
Na sociedade, as regras são feitas e aprovadas por um coletivo, enquanto em casa ou na sala de aula, na maioria das vezes, a criança não participou das conversas e não conseguiu escolher quais são os seus limites. Normalmente é apenas a palavra dos mais velhos que ditam as regras e ponto final. Regras que não compreendemos são difíceis de aceitar e para as crianças não é diferente: se não as envolvemos no processo da criação, elas não verão importância em seguir aquilo.
Não incluir as crianças nas decisões das regras é um dos principais fatores que contribuem para o surgimento de atitudes de indisciplina mas não o único: a maneira como falamos também interfere nesse processo. Observe-se enquanto dá ordens para alguma criança: além do tom da voz se elevar, sua postura se torna mais firme e imponente? Você fica mais enérgico, reativo e com o coração acelerado? Se realmente pararmos pra pensar, qual o sentido de falar dessa maneira? E se falamos normalmente e de maneira respeitosa com nossa(o), chefe, parceiro(a), pais, equipe de trabalho, por que agimos diferente com uma criança? Quando ouvimos alguém falando dessa maneira grosseira conosco a vontade é de reagir, de falar da mesma maneira com aquela pessoa, não é? Com as crianças não é diferente. Além de responderem do mesmo modo, elas ainda não conseguem ouvir sequer uma palavra do que dissemos, pois o foco foi todo para a linguagem corporal.
Por fim vamos falar do Autocontrole. Ao impormos regras e exigirmos disciplina tocamos em um ponto delicado, pois, fisiologicamente falando, a criança não é madura suficiente para controlar algumas de suas ações por conta própria. Quando pedimos que elas não brinquem com um pote de vidro que é super chamativo e divertido, mas não o tiramos da sua frente, estamos fazendo um convite para que ela brinque com ele.
Está desanimado diante da percepção de que você pode estar contribuindo para aquilo que você achava que era ‘culpa’ da criança? Muitas pessoas desanimam ao serem questionadas sobre sua noção de indisciplina e, principalmente, ao perceberem que contribuem para o surgimento dela. Mas calma, reafirmamos que regras sociais e limites existem e devem existir: regras de higiene, por exemplo, tornam esse tempo de fragilidade na saúde mais seguro. Funciona assim também dentro de casa e da escola. Precisamos de regras, apenas devemos mudar a forma de construí-las fazendo as crianças participarem do processo tomando cuidado com a maneira que nos dirigimos à elas. Abaixar na altura delas, falar em um tom de voz normal e acolhê-las faz toda a diferença.
Além disso, devemos encarar a indisciplina com outros olhos, sabendo que ela não faz parte da personalidade da criança, mas são momentos esporádicos de desencorajamento e frustração. Para uma mudança efetiva, comece a ver os pequenos como participantes ativos do meio em que eles vivem, com decisões, desejos e voz próprias.
Precisa de ajuda para este processo e quer saber mais sobre como incluir as crianças no processo de criação e implementação das regras da casa? Siga nossa coluna e acompanhe todas as dicas!
Texto de Natalia Ghidelli