Pensamentos de uma futura docente sobre o contexto educacional

Os processos de ensinar e aprender acontecem na raça humana desde sempre, quase como um instinto.

 Existe a necessidade de comunicar às novas gerações todo o conhecimento arrecadado, para que possam sobreviver e melhorar as condições de vida.

O aumento populacional, o abandono do nomadismo e a estruturação da sociedade concatenaram para as formas de ensino formais. Durante os séculos de aceitação e implementação dos espaços formais de ensino por quase todo o planeta, muitas maneiras de ensinar foram discutidas e testadas.

Cachapuz (2000) promove uma visão histórica e didática da evolução das perspectivas de ensino, explicitando que não são isoladas umas das outras e que o processo de elaboração e discussão dessas perspectivas acontece de acordo com as transformações sociais. Sumarizando, são elas: Ensino Por Transmissão (EPT); Ensino Por Descoberta (EPD) (Aprendizagem por descoberta); Ensino para a Mudança Conceptual (EMC) e Ensino Por Pesquisa (EPP). Cada uma dessas perspectivas será apresentada de forma sucinta a seguir.

Ensino Por Transmissão
  • O professor transmite ideias (conteúdos) e o aluno armazena sequencialmente no seu cérebro (receptáculo);
  • Aluno como “tábua rasa” e o seu lugar é de grande passividade cognitiva na sala de aula;
  • Concepção de que o conhecimento existe externamente ao aluno e que para aprender é necessário ser bom ouvinte e replicar as informações de maneira fiel ao que foi transmitido;
  • Portanto o método avaliativo é normativo e classificatório e consiste em pontuar o produto obtido (output) de cada aluno;
  • Dessa forma, o erro caracteriza-se como uma ação negativa, já que implica em menor pontuação que é considerada como menor rendimento;
  • Conceitos reduzidos à aspectos para fácil memorização (que, quem, quando, qual) e não há espaços para reflexões e questionamentos do tipo “porque” ou “como”;
  • O conhecimento científico é considerado como certo e inquestionável, e é descontextualizado.
Ensino Por Descoberta
  • O conhecimento de mundo, de cotidiano do aluno é desconsiderado;
  • Entretanto, o aluno se torna o sujeito do processo de aprendizagem pois é estimulado à constatar fatos (metáfora do aluno cientista);
  • O papel do professor é de programar o método pedagógico para a descoberta e constatação de conceitos por parte dos alunos;
  • O erro também é tido como negativo; 
  • Essa perspectiva defrauda completamente o método científico e a profissão do cientista pois considera que ao seguir os roteiros experimentais os resultados surgirão;
  • Há a confusão grave do “descobrir que” ao invés do “descobrir porque”;
  • O professor já tem as respostas desejadas e os erros e os conflitos cognitivos são desvalorizados pois aos alunos devem chegar à tais respostas;
Ensino por Mudança Conceptual
  • Reeorganização dos conhecimentos por parte dos alunos, saindo do senso comum ou de suas Concepções Alternativas para concepções científicas adequadas (“aprender a pensar”);
  • É um processo lento e gradual e pode ser iniciado à partir de utilização de contra-exemplos pelo professor;
  • Exige um conhecimento mais aprofundado dos conceitos pelo professor, que é tido como facilitador e  mediador dos conhecimentos prévios dos alunos;
  • É necessário observar a função cognitiva da linguagem, e não apenas a comunicativa, de modo a fazer emergir o erro;
  • “Se não erramos não podemos avançar”, estimular o aluno a entender o porquê do erro;
Ensino Por Pesquisa
  • Considera os interesses pessoais e vivências cotidianas dos alunos e portanto as informações as quais se buscam nascem de discussões entre os alunos;
  • A problematização envolve questões enraizadas na sociedade e de abrangência de CTSA, portanto o conteúdo é sempre inter ou transdisciplinar;
  • Busca o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos;
  • Compreensão do papel social da ciência e da tecnologia;
  • O processo avaliativo deve acontecer durante todo o processo, caracterizando-se como formativo e de maneira a ajudar o aluno a entender suas próprias deficiências;
  • Essa perspectiva se consolida como um ciclo pois mesmo após encontrada a resposta para uma questão problema dada anteriormente, o professor pode trabalhar uma capacidade ou atitude que não foi bem desenvolvida como o esperado, trazendo uma nova questão;

Ao compararmos cada uma das perspectivas, podemos notar como são diferentes mas todas têm o mesmo propósito: são maneiras de ensinar. É importante como educadores, conhecer todas elas, entender os respectivos processos históricos de popularização para que assim possamos nos questionar: As aulas estão ensinando alunos do século XXI a viverem no século XXI? Todos os alunos estão minimamente envolvidos no processo de ensino-aprendizagem? Estamos aplicando a perspectiva mais conveniente ou a que acreditamos promover uma aprendizagem mais significativa?

Esse assunto pode abranger outras problemáticas mas eu espero que questionamentos como os feitos acima façam parte da prática de diversos docentes que nos acompanham por aqui, de forma a buscar sempre o aprimoramento.

Referência Bibliográfica: CACHAPUZ, A.F. (org.). Perspectivas de Ensino. 1. ed. [S. l.]: Porto, junho 2000. 80 p. v. 1. ISBN 7982000.

Texto de Larissa Jamarim Gomes

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